Alagoas

Venda de “canetas” para emagrecimento movimentou R$ 18 milhões em Alagoas em 2025

Dados da IQVIA mostram avanço expressivo do mercado de medicamentos para perda de peso no estado

Vinícius Rocha 18/06/2025
Venda de “canetas” para emagrecimento movimentou R$ 18 milhões em Alagoas em 2025
Ozempic, da Novo Nordisk - Foto: Divulgação

As chamadas “canetas para emagrecimento”, como Wegovy, Ozempic e Mounjaro, movimentaram R$ 18 milhões em Alagoas entre janeiro e maio de 2025, de acordo com levantamento da IQVIA, empresa referência em inteligência de dados para a área da saúde. A nível nacional, os estados que mais registraram vendas foram São Paulo (R$ 800 milhões) e o Rio Grande do Sul (R$ 168 milhões), enquanto os estados que fazem divisa com Alagoas, Bahia, Pernambuco e Sergipe movimentaram R$ 82 milhões, R$ 57 milhões e R$ 13 milhões, respectivamente,

No total, o mercado nacional desses medicamentos somou R$ 2,5 bilhões nos cinco primeiros meses do ano. Vale destacar que esses são os dados oficiais, obtidos a partir da venda legal desses medicamentos.

O médico endocrinologista Lucas Mendonça, entrevistado pelo Jornal de Alagoas em maio, afirmou que os benefícios para os pacientes vão além do ganho das indústrias farmacêuticas.

“O lucro [das empresas] com certeza foi enorme. Mas não só da indústria farmacêutica, como também do paciente. Lógico que a vaidade humana impulsionou bastante as vendas, mas prefiro acreditar que o lucro seja principalmente devido à melhora significativa na saúde dos pacientes que fazem o uso”.

Já a médica Janaína Alencar observa que há pacientes buscando Ozempic mesmo com IMC normal. “Esses remédios estão transformando as pessoas em reféns da aparência sarcopênica, o que está em alta agora, vemos mulheres muito magras cada vez mais, tanto no dia a dia quanto em mídias sociais".

Ela reforça que muitos estão obtendo o medicamento sem receita, o que agrava a situação: “Hoje em dia estão conseguindo locais que fornecem sem receita médica, o que contribui mais ainda para a desinformação e riscos para o paciente".

Preocupação dos fast foods


O crescimento expressivo nas vendas tem causado repercussões além do setor farmacêutico. De acordo com um especialista da área, que acompanha o comportamento do mercado, a popularização das “canetas” tem afetado diretamente o consumo em redes de alimentação rápida.

“Esses produtos reduzem muito a vontade de comer. A pessoa não sente fome, come pouco, às vezes até fica enjoada. Isso tem preocupado muito o setor de fast food. McDonald’s, Bob’s, pizzarias — todos estão atentos, porque o faturamento deles começa a cair. Quem mais se preocupa com essas canetas hoje não é nem o consumidor, é esse pessoal do setor alimentício”, afirmou o profissional, sob condição de anonimato.

Além do impacto econômico, nutricionistas também têm se posicionado sobre os efeitos do uso indiscriminado desses medicamentos. Em publicação nas redes sociais, a nutricionista Drª Érika Gouveia alertou para o risco do uso das “canetas” sem acompanhamento profissional e sem mudanças reais no estilo de vida. Segundo ela, o emagrecimento pode ser momentâneo e reversível, caso não haja reeducação alimentar e suporte adequado.

“Afinal, emagrecer por remédio sem tratar o motivo da compulsão ou da má alimentação não é transformação. É apenas um controle temporário. É como limpar a casa escondendo a sujeira embaixo do tapete”, escreveu a especialista.

Esses medicamentos, originalmente desenvolvidos para o tratamento de diabetes tipo 2, atuam no controle do apetite e do metabolismo e passaram a ser utilizados off-label para perda de peso, sobretudo após a aprovação do Wegovy pela Anvisa em 2023 para tratamento da obesidade. Desde então, o acesso tem se ampliado, impulsionado pela exposição nas redes sociais e pela demanda por soluções rápidas para emagrecer.